sábado, 16 de fevereiro de 2013

Perspectiva epistêmica da T.T - O logônico


LOGÔNICO


No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus. Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.                                 
(Evangelho de João 1:1)


            Logônico, vem da palavra grega – logon , modo acusativo de logos – que significa: palavra, razão, discurso, argumento. Assim, O logônico é a esfera da linguagem, dos discurso, da ordem e da lei, é o mundo simbólico: mundo que nos faz existir socialmente por meio de significantes ou signos, posições sociais que assumimos voluntariamente ou não. 
            A sociedade é um sistema simbólico, ou seja, um sistema estruturado por linguagem. Logo, quando nascemos recebemos um nome dos seres falantes ou daqueles que manipulam os códigos sociais.  

            Além do nosso nome,  que indica nosso pertencimento a um grupo reconhecido no sistema, também recebemos  números de registro e, a partir daí, somos educados continuamente para ser integrado ou existir dentro do sistema social dos seres falantes. A linguagem é a lei do sistema que regula, controla, classifica, e produz o sentido da vida social.

            Indivíduo é um termo para definir qual seria a parte menor constitutiva da sociedade, o nome de registro de uma pessoa  é a chave de acesso e conexão no sistema  e sua  economia, que pune quem não trabalha em função dele e consagra quem contribui para sua estrutura. O fato é que não adianta tentar ser anárquico ao sistema, pois, todos que se levantam contra conseguem somente promover algumas  pequenas transformações, reformas  superficiais.

            O logônico  é aquilo que estrutura-nos como sujeitos. É a linguagem num sentido absoluto que esta atravessado em todo e qualquer corpo.  É o mundo humano, o que faz o ser  um "falasser": ser de fala articulada, de verbo, de logos, de lei.

            O logônico ou simbolico constitui uma das partes fundamentais da  psique que estrutura o consciente e o inconsciente. Conforme Zizek:

"A ordem simbólica, a constituição não escrita da sociedade, é a segunda natureza de todo ser falante: ela está aqui, dirigindo e controlando os meus atos; é o mar em que nado, mas permanece essencialmente impenetrável - nunca posso  pô-la diante de mim e segurá-la. É como se nós, sujeitos de linguagem, falássemos e interagíssemos como fantoches, nossa fala e gestos ditados por algo sem nome que tudo impregna." ( Zizek; 2010, p. 16)

            As regras, leis, dogmas, doutrinas, códigos éticos, valores institucionais são desdobramentos do sucesso do individuo que em sua infância foi atravessado pela linguagem e obteve acesso ao simbólico. Esse fenômeno foi descrito pela psicanálise freudiana, fase conhecida pelo nome de  "complexo de Édipo". Na perspectiva lacaniana, um presente sedutor e perigoso, que contorna o nosso presente:

"Para Lacan, a linguagem é um presente tão perigoso para a humanidade quanto o cavalo foi para os troianos: ela se oferece para nosso uso gratuitamente, mas , depois que a aceitamos, ela nos coloniza." Zizek; 2010, p. 20)

            As grandes religiões e as super-ordens estatais devem muito seu poder e crescimento ao logônico, pois é por ele que se constroem as estrutura das leis "divinas" e as modernas leis humanas. Nele, se - institui os papéis sociais, cargos, títulos, etc.

             O logônico é o lugar dos desejos, do gozo dos discursos e poderes.  No pensamento do apostolo Paulo  é "a letra que mata".



                                                     
Referencia Bibliográfica:


FINK, Bruce. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro:Zahar, 1998.

ZIZEK, Slavoj. Como ler Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.





Marcio F. A. Miyazato. é Professor e Teólogo. Fundador da Teologia Trans-histórica.  Formado em Pedagogia, Graduando em teologia pela FAETESF e pós-graduando em Semiótica Psicanalítica pela PUC-SP

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