segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Perspectiva epistêmica da T.T - Parte IV - O Icônico

ICÔNICO - parte 2 -                                                                        


Muitas imagens são produtos feitos por meio da mente e pelas mãos dos homens. Essas  imagens produtos, apresentam uma variedade de  rótulos.

As que são produzidas para dentro chamamos de símbolos, ilusões, fantasias, fantasmas, ícones, modelos, paradigmas, marcas,  qualidades, etc. As que são produzidas para fora, chamamos de coisas, objetos, substâncias, protótipo, matéria, paisagem, etc.

Se a produção for espontânea chamamos de natural, se não, de artificial, técnica, ou tecnológica. Algumas parecem competir pelos dois processos, como as imagens artísticas, que ora são ditas como técnicas espontâneas, e ora, como espontâneas técnicas. Se à conhecemos, dizemos que são normais, caso contrario, anormais, ou até sobrenaturais. 

         Boa parte delas deve sua origem à capacidade de abstração chamada de imaginação. Segundo Vilém Flusser, imaginação é a capacidade de codificar fenômenos de quatro dimensões em símbolos planos e decodificá-las, ou seja, de produzi-las e decifrá-las (Flusser, 2011, p. 21).

      A leitura da imagem é circular, inicia por pontos preferenciais e voltam á eles. Esses pontos passam a ser o foco que lhe confere significado em todo o processo do olhar.      O tempo que circula é de aspecto mágico, distinto do tempo linear da escrita que estabelece relações de causalidade:

“No tempo linear, o nascer do sol é causa do canto do galo; no circular, o canto do galo dá o nascer do sol, e este dá significado ao canto do galo. (...) .. no tempo da magia, um elemento explica o outro, e este explica o primeiro. “  (Flusser, 2011, p. 23).

     Ainda segundo Flusser, seu caráter mágico é essencial para sua compreensão, pois, tratam –se de códigos que traduzem eventos em situações, processos em cenas, substitui eventos por cena. Desse modo, não podemos ignorar sua leitura peculiar e cometer o erro de ignorar seu "dito" que é expresso  pelas figuras,por seu modo de significar e também por aquilo que é "dito" em seus "entrespaços", tal como não se ignora o dito nas entrelinhas da escrita.
        As imagens são mediações entre o homem e o mundo, entre o sujeito e o real de maneira que passam até mesmo serem substitutas do próprio mundo fazendo emergir um sujeito de imagem, sujeito mágico, alienado de vida idolatra:

  (..) Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos. O homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver em função de imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como significados do mundo, mas  o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas, Tal inversão da função das imagens é idolatria. Para a idolatria - o homem que vive magicamente. ”     (Flusser, 2011, p. 23).

           Apesar do distanciamento que procuramos te em relação as imagens, somos incapazes de livrarmos dela, pois,  de acordo com a  psicanálise, nossa consciência , nosso eu (ego) é fruto de um processo imaginário, chamado por Lacan de Estádio do espelho.
           Lacan em seu texto,  "O Estádio do Espelho"  como formador da função do eu, mostra que,  no seus primeiros meses de vida, o bebê é prematuro neurofisiológica em relação a sua coordenação motora, seus movimentos são desordenados e sua imagem psíquica é fragmentada. Por volta dos 18 meses, na fase anal, fase que apresenta uma leve noção de alteridade, sua imagem e conectada por uma espécie de "gestalt", a criança ao reconhecer sua imagem no espelho tem um grande jubilo, porém essa identificação que ocorre perante o espelho é também uma alienação pois o que vê não é a si mesma mas uma outra imagem que será assumida como seu "ideal de eu".

      Essa terceira dimensão bem complexa que localiza-se na fronteira entre as duas dimensões, endógena (interna) e exógena (externa) podemos denominá-la também de "intergena". Ela têm um caráter operante, servem como uma espécie de ponte, espaço de conflito, interesse, transformações, harmonia, perturbações, conjunções e disjunções entre os dois mundos.
          A dimensão "intergena" é a dimensão da mente. A mente não se encontra somente no cérebro, ela se expande tanto para dentro do corpo, quanto para fora ,se ligando a outros corpos por meios da relação   (endógena - intergena – exógena) das imagens.

          Os processos imaginários que ocorrem para dentro da mente, chamamos de sonhos, alucinações, fantasia, fantasma, imaginação, etc. Enquanto, aqueles que ocorrem para fora, para o mundo externo, chamamos de arte, trabalho,  coisificação, criatividade, etc; E no meio, paixão, sublimação, introjeçâo,  emoção, etc. Assim a mente se conecta tanto para dentro quanto para fora.

       O “todo” ou o “Um” do processo imaginário chamamos de “eu’ ou “eus”. Há eu para dentro, “mim’;  Eu para fora, mas ainda dentro do campo, “tu’; Eu no meio de campo “nós”; E eu fora de campo “ele”,” isso”, “aquilo” e “outros”.

           O “eu” a partir de uma relação de dentro chamamos “sujeitos”( sub-jecto); O de fora, mas ainda dentro do campo, “objeto”(ob-jecto); O do meio de campo ocupa uma relação de composição estranha um sujeito-objeto-sujeito um “eu” intersubjetivo; E o de fora do campo,  objeto-sujeito-objeto um “ eu” trans-subjetivo.

         É graças a mente ou processos mentais que transformamos e multiplicamos as imagens, tanto as endógenas, quanto as exógenas expandindo-as, assim como expandimos a dimensão "intergena", nossa mente, nosso eu.
            Esse eu imagético ou icônico, é uma das dimensões que distingue o humano de qualquer outro animal, trata-se de um eu da queda, um eu que surge com o fruto do conhecimento do bem e do mal. Eu que vai encontrar no simbólico, no Logos, na lei, sua edificação e sua estruturação, e ainda, seu progresso, evolução e superação, como veremos adiante ao falar do terceiro vetor, o Logônico. 

Referência Bibliográfica:        
                                                                                         
BAITELLO ,Júnior, Norval. A era da iconofagia. Ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker Editores, 2005.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. São Paulo: AnnaBlume, 2011.


DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 



 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.





sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Perspectiva epistêmica da T.T - Parte III - O Icônico

ICÔNICO - parte 1

“Quando o mundo real se transforma em simples imagens as simples imagens”. tornam-se seres reais (...) o espetáculo como tendência de fazer ver (...) o mundo que já não se pode tocar”
 (Debord, 1994, p. 18).


Icônico, vem do grego: eikónikos, que significa – reprodução, cópia, que representa com exatidão, conforme o modelo, etc. Tem sua raiz em eikon – imagem, figura, semelhança.
O icônico é o reino das imagens dos duplos semelhantes, visto. Imagens táteis, sonoras, gustativas, olfativas e visuais. São cópias, mimesis, imitações, duplicatas do mundo, e numa visão platônica, cópias imperfeitas do mundo das idéias.
Mas, o icônico está longe de ser apenas algo consciente, do mundo dos visíveis, junto com ele, esconde um mundo sombrio, mundo fantasmagórico, espaço que oculta um tipo de “pré-história” da percepção humana, que passa a ser visível somente quando cruza o rio da palavra, do logônico, do simbólico, da história.
 Freud foi um dos primeiros pensadores que se aventurou na empreitada de procurar construir uma ponte entre esses dois mundos como podemos ver em sua obra: “ A interpretação dos sonhos” . Antes dele, apenas os místicos e espiritualistas procuravam dialogar com o oculto mundo invisível. 
Nas origens das imagens se esconde uma estranha e misteriosa gênese do mundo humano, de modo que é preciso considerar tal complexidade e talvez até certa limitação com relação ao seu princípio, isso, porque os instrumentos que construímos para poder conhecê-las são construídos não a parte delas, mas por meio e algumas vezes entre elas. Eis o ponto cego do modernismo e seu mito de neutralidade.
Para orientarmos no icônico como um possível vetor, que nos auxiliará a compreender esse universo imagético, vamos procurar contornar algumas dimensões iniciais que nos sirva como um ponto de partida. O termo “dimensões” é para evitarmos reduzi-las a uma categoria tipológica, ou uma classificação de imagens como meros objetos, simples e desconectados entre si.

Dimensões do Icônico

Segundo Flusser, as imagens são superfícies ou qualidades que intentam em mostrar algo. Em sua maioria se encontra lá fora no espaço tempo. Geralmente são resultados de abstrair duas das quatro dimensões espaço-temporais, de modo que se conserva apenas a dimensão do plano como, por exemplo, a imagem de um quadro ou um espelho (Flusser, 2011, p. 21).  
Nessa fala de Flusser podemos considerar algumas dimensões reais da imagem, quando ele diz que, a maioria se encontra fora no espaço-tempo, enquanto as outras, subtendidas, as que são a minoria, se encontram dentro, num espaço interno. Por esse motivo, Hans Belting (2001), propôs as categorias de imagens endógenas, para se referir às imagens internas; e imagens exógenas, para aquelas encontradas do lado externo (Baitello Jr, 2005, p. 46,47).
As imagens exógenas estão no plano do ambiente, do qual conhecemos por ecológicas. Essas imagens ecológicas podem ter a seguinte distinção: aquelas ditas naturais, que não são produzidas pelas mãos humanas e as culturais as produzidas pelos humanos.
A origem das imagens culturais pode ter o próprio corpo como referencia, imagens produzidas no corpo e para fora do corpo. Segundo Baitello Jr. o termo o corpo funciona como um tipo de primeira mídia, (mídia primaria), ela aponta estudos de micro gestos assim as imagens produzidas no corpo e pelo corpo são: tatuagem, gestos, cicatrizes, poses, uso de vestimenta e assessórios, perfumes, vozes, etc.
A segunda mídia surge quando o corpo, primeira mídia, deixa sua marca gravada em outro corpo externo que dure mais tempo que o próprio corpo humano como: os desenhos nas cavernas, pinturas, em quadros, gravuras em tabuas de argila, madeira, papel etc.

[...] deixando marcas em objetos, marcava sua presença, deixava a informação de sua presença em sua ausência [...] [e passa a usar] objetos fora do seu corpo para a sua comunicação. Com isso inventou a mídia secundária. Entre um corpo que emite um sinal e outro corpo que recebe o sinal, existe um objeto, um meio de campo, uma mídia. [...] Uma das primeiras formas de mídia secundária são as representações nas cavernas, as imagens e a sua transformação em pictografia e depois em escrita. Assim, todos os produtos da escrita sobre suportes materiais fixos ou transportáveis são, portanto, mídia secundária (Baitello, Jr, 2005, p. 33).

Isso vai ter um impacto no imaginário humano, de modo à inaugurar uma era do registro e do documento da humanidade. A arqueologia e principalmente a História são ciências e mentalidades que se fundamentam nessas bases mídiaticas.
Com esse gesto de registro da expressão do corpo primário, para outro corpo que durava bem mais que o corpo da mídia primaria, o homem conseguiu conquistar o tempo, um dos aspectos da mortalidade, pois, o corpo (mídia primaria) perecia, mas suas idéias, sua alma, viveria para gerações posteriores por meios de outros corpos duráveis. Baitello Jr. também fala sobre a invenção do tempo lento, tempo da contemplação:

[...] introduz um fator temporal novo, inventando o tempo lento que é o tempo da escrita, da decodificação e da decifração. O tempo da imagem registrada sobre materiais permanentes permite o tempo lento da contemplação. Assim também toda escrita exige decifração e tudo que não deciframos nos devora – isto vale tanto para a imagem quanto para a sua transformação que é a escrita (Baitello, Jr, 2005, p. 33).

Temos ainda a terceira mídia ou mídia terciária. Enquanto a mídia secundária se utiliza de aparatos, suportes para a produção de imagens, as mídias terciárias usam aparelhos, que funcionam de um lado como emissor e outro como receptor.
Segundo Baitello jr. essa revolução na forma de comunicação, fez com que o homem supera-se o espaço, podendo agora experimentar certo tipo de “onipresença”. São exemplos de mídia terciária, que envolve a produção de imagens: a televisão,  cinema, computadores, a internet , vídeo games, celulares e mobiles.
De alguma forma o discurso teológico pode ser encontrado mediado por imagens nesses diversos tipos de mídias. Sua produção pode ser tanto espontânea, quando produzida de forma natural sem uma intencionalidade objetiva. Como também pode ser artificiosa, com uma intencionalidade objetiva e instrumental.
Uma questão que podemos refletir é até que ponto a espiritualidade e as formas de culto ou mesmo o discurso teológico, do cristianismo, juntamente com seus valores,  não sofreu com essa transformações midiaticas?  Para aqueles que acham que a mídia trata-se apenas de uma ferramenta de comunicação, a resposta talvez não seja tão impactante. Mas, para aqueles que compreendem que o termo mídia, é sinônimo de meio, e meio é muito mais que ferramenta, mas, um espaço que se arquiteta como um sistema, instaurando novos modos de percepção e cognição, ou seja, novas subjetividades, a resposta é de outra natureza.
Só uma pequena provocação! Se observarmos a história das midias, seu modelo cognitivo proposto e paralelamente as mudanças de mentalidades em cada época em que houve um modelo midiatico, é interessante o resultado. Eis um ponto onde a história das idéias não alcança, pois sua preocupação se dá apenas com o conteúdo ou com o significado do  relato produzido em uma determinada época, mas não consegue compreender até que ponto cada meio,  com seu modo de produção e, seu arranjo semiótico, determinam e influenciam a  significação e conseqüentemente a produção de sentido.

                Referência Bibliográfica:        
                                                                                         
BAITELLO ,Júnior, Norval. A era da iconofagia. Ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker Editores, 2005.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. São Paulo: AnnaBlume, 2011.


DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Perspectiva epistêmica da T.T - Parte II - O real

O REAL


“Eu te batizo, Real, por que se não existisses, seria preciso inventar-te.”                                                                                              J.Lacan

            O real é o crú, a coisa sem assar e sem cozer usando os termos de Levi Strauss, mas o crú em movimento, sem corte e sem nome. Podemos pensar o real como um tempo antes da palavra, antes da linguagem humana. Algo liso, sem fronteiras, sem zonas e sem divisões que não encontrado, mas reencontrado.
O real é o que não foi simbolizado, fora do dominio do logônico (da ecônomia do logos) , ou que foi parcialmente simbolizado e que será simbolizado progressivamente durante a vida de um sujeito. Ele é dá ordem do impossível, daquilo que resiste a simbolização, desse modo se situa como ex-sistente, que “existe” fora do campo da linguagem, assim o real não existe, ele ex-siste ou insiste. Epistemologicamente falando está ligado a um principio dinâmico. Segundo Bruce Fink na psicanálise lacaniana:

[...] é um tipo de tecido interno, indiferenciado, entrelaçado de forma a ser completo em todos os lugares não havendo espaço entre os fios que são sua matéria. É um tipo de superfície ou espaço plano e sem emenda que se aplica tanto ao corpo de uma criança antes da entrada na ordem simbólica, quanto a todo o universo.                                                                                                                                           
(FINK: 1998, p. 44)

       Ele não é o real da ciência como uma matéria  ou corpo material, é algo que esta ai,  unido, que nos escapa e perpassa. Segundo Lacan, a ciência matemática pode ter um acesso pequeno ao real, mas ainda de forma limitada faltando por inteiro. ( LACAN: 2005, pg.76, 77.)
        O real é um puro acontecer. Para um bebê é a ação e reação a um objeto que se move dentro, entre e à sua frente, o evento no seu aqui e agora, no seu puro acontecer sem causalidade, crú no ato em si, como algo que se move à sua frente ou dentro de seu corpo, um conflito da consciência com o fenômeno, buscando entendê-lo, realiza-se em resistência e estados de choque, percepção, ação,  e surpresa.

        Para Lacan, a letra mata o real que havia antes da linguagem. O logônico (simbólico ou ordem da linguagem) , ao neutralizar o real cria a realidade, que não pode ser confundida com o mesmo.  Na linguagem o real pode ser falado e pensado, mas quando falamos, só o fazemos pela realidade, que é o real transformado em linguagem. 
     O bebê quando ainda muito pequeno apresenta um corpo todo desengonçado com movimento dispares sem sentido. a vida nos é apreendida com o próprio corpo mas, este para existir e funcionar, se articular, necessita ser mergulhado na linguagem, batizado nas águas do universo das imagens e dos significantes.
     A dimensão social da realidade implica num mundo que deve ser cifrado, codificado, mediado pela linguagem, de modo  que ele venha a existir como fato social, assim a existência é um produto da linguagem e aquilo que existe para um grupo social existe somente na linguagem. 
      Assim, o real, uma vez que precede a linguagem, não existe, mas ex-siste. (termo usado por Lacan para indicar algo que se encontra fora da linguagem)
        Se o real é o impensável, como podemos fazer esse encontro com o real? Para Lacan é no sintoma que identificamos o que produz no campo do real.  
         O sintoma é efeito do simbólico no real. O gozo dos seres falantes que goza de ser na fala ou falasser. Segundo Lacan o sintoma não é necessariamente o real, mas a manifestação do real em nosso nível de seres vivos, na linguagem. Em eu texto o Triunfo da religião ele diz:

“ “No começo era o verbo” , concordo plenamente. Mas antes do começo, onde é que ele estava? É isso que é verdadeiramente impenetrável. Há o evangelho de são João, só que há também uma outra coisa que se chama gêneses e que não é absolutamente desvinculado do Verbo. “
                                                                          ( LACAN: 2005, pg.76, 77.)

       Uma fala que não se cessa, uma manifestação artística, um delírio ou um simples suspiro são sinais ou sintomas do real. Construímos ou destruímos porque algo nos afeta, o real como registro é singular para cada sujeito e cada sujeito singular é efeito de um real.
       Como podemos observar para Lacan o real só pode ser falado na medida em que pode ser nomeado, mas há algo de singular em no pensamento de Lacan que serve ao nosso propósito, a letra, a cifra que anexa e manifesta o real não significa nada, parece ser apenas um indicativo de que há algo pra além da letra e que apenas a letra ou o significante sinaliza, isso é o que é da ordem do Inconsciente, daí a máxima o inconsciente se estrutura como linguagem.
         A letra não é a fala, mas o significante, material fundamental que influenciara na produção da fala. A fala ou o discurso do falante não é a verdade sobre o real, é o contrario,  o real de cada vivente é  a verdade que se esconde por traz de toda a fala do sujeito, um tipo de material dinâmico que fura qualquer relação social e que quebra nossas certezas e que se esconde ora fixando ora se deslocando e ora extravasando num objeto, este ultimo é o  mais-de-gozar, um gozo que não cessa de se repetir e que pode levar o sujeito a morte.
     
   Para teologia transistórica todo e qualquer discurso teológico será tomado como sintoma, porém dentre os sintomas  um, terá uma atenção privilegiada,  aquele que aponta um real encontro com Deus,  encontro traumático com o Verbo divino e que deixa marcas de outra ordem a ponto de inaugurar uma nova vida e fazer emergir um novo sujeito. Esse sintoma que indica algo que esta fora das imagens e das palavras humanas, chama-se evangelho de Jesus Cristo.
         O real cristão é o Reino de Deus revelado por Jesus, mas não com palavras categóricas, mas por meio de metáforas pois sendo da ordem do real, não  poderia ser dito de outra forma.
     Diferente das correntes metafisicas, o vetor do real, possibilita pensar um Deus não transcendente, pois como podemos ir afirmar o além se não damos conta do aquém.   

Referencia Bibliográfica:


FINK, Bruce. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998.


LACAN, J. O triunfo da religião, precedido de discursos aos católicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.






      Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.

Perspectiva epistêmica da T.T - Parte I - A tríade

Perspectiva epistêmica da Teologia Transistórica. (T.T)

Em outros textos iniciais vimos que a  T.T. não almeja ser uma ciência no sentido moderno, não intenta ser uma teoria teológica e sim uma perspectiva. Essa perspectiva parte de um ponto de vista que podemos chamar de pós-histórico ou pós-moderno, num sentido em que procura abandonar uma visão cartesiana do dualismo corpo x mente, espírito x matéria e sua máxima modernista do cogito "penso logo existo", como outras idéias que serão abordadas mais adiante.
Porém queremos ressaltar que, diferente  de alguns preconceituosos do termo, o conceito pós-moderno esta longe de uma idéia unida num bloco de referência formando um todo hegemônico, isso seria contraditório a sua própria marca do pluralismo, talvez esta seja, a questão de mal estar que o pós moderno coloca pra todos, em especial  para aqueles que gostam de gozar de certezas e dogmas generalistas que servem mas para rotular e controlar as pessoas do que valorizar  a questão de uma verdade mais complexa.
Acreditamos que há uma condição ou um fenômeno no ar, que traz um mal estar e, que muitos já estão nomeando como pós-moderno, mas, isso não indica que há um partido unido chamado de pós-modernista, pelo contrario, o pós-moderno é apenas um termo indicial e não substancial, que aponta para essa condição atual onde a tendência de dar crédito a grandes partidos e idéias universais, para infelicidade de muitos que tem o delírio pelo poder das massas, chegou ao fim ou se dará mais pelo viés das formas do que pelas ideologias conteudistas.
            Claro que há pontos negativos nessa nova fase da sociedade mas, antes de criticá-la de maneira desesperada é preciso primeiro,  dar conta do que se trata, pois algo mudou ontologicamente na mentalidade atual  e, que por sinal, não  tem volta e, como todas as mudanças paradigmáticas do ocidente, mudou para o bem e para o mal. 
            Assim como outras perspectivas   de conhecimento, como a psicanálise e a semiótica,  a T.T. abandona a visão dualista cartesiana que aceita uma separação estranha entre matéria e espírito ou corpo e mente e assume uma visão triadica.  Essa visão tem como inspiração a filosofia e a semiótica peirceana - de Charles Sanders Peirce -  e idéias da psicanálise lacaniana - de Jacques Lacan. Também, se trata de uma perspectiva bem comum ao cristianismo, onde encontramos uma perspectiva triadica do fenômeno Divino e que como veremos adiante parece, ao nosso modo de ver, um ponto de vista  mais adequada a “cosmovisão cristã” como veremos mais adiante.
          A apresentação desse modulo da perspectiva epistêmica é de fundamental  importância, pois visa apontar num primeiro momento a leitura ou o viés óptico da Teologia Transistórica.
            Iniciaremos então pela trilogia: Real, Icônico e Logônico. Estes conceitos são inspirados na semiótica e na psicanálise, Na T.T. trará seus próprios contornos sem necessariamente manter laços com a sua origem devido seu  rumo distinto.
Real, logônico e simbólico são três categorias epistêmicas que procuram dar conta da complexidade dos fenômenos e da vida humana em sua “totalidade”. Trata se de uma espécie de lente, porém, modulada em três aspecto ópticos que visam possibilitar a analise do fenômeno  do discurso teológico sem correr o risco de reduzir  sua complexidade. A imagem abaixo mostra o modelo da lente com os seus tres principais vetores e seus entrelaçamentos, que funcionaram como sub-vetores. Vamos inicialmente, conhecer cada vetor separadamente, observar sua especificidade e seu papel e bem mais à frente podemos observar a composição dos sub-vetores.  



Tríades da Teologia Transistórica


 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.

sábado, 4 de agosto de 2012

Cadoscidade

Cadoscidade - origina do hebraico: kadash separar, consagrar, tornar santo, dedicar; e do do português: espaço,estado,  lugar. Kadosh+cidade, Lugar Santo, estado santo. 
È um termo importante para refletir sobre a vida no caminho de Jesus - ele poderia ser sinônimo de espiritualidade, mas este ultimo é contaminado por concepções gregas e por vezes racionalista num sentido que pode-se falar de espiritualidades, ou seja, diversos tipos e formas de espiritualidades em diferente tempos e culturas. 

Na teologia transhistórica, esse termo,sera utilizado para suprir uma reflexão acerca de um tipo de santidade e separação bem definida, trata-se de uma relação ou relacionamento conectado à Deus, conectada ao caminho da vida e ao Reino de Deus, assim, não se trata de formas ou modos de se santificar mas, um postura, um posicionamento para fora do caminho largo do bem e do mal em direção ao caminho da vida e da graça.


A cadoscidade é a vida em Deus e no reino, adquirida pela fé em Jesus Cristo,  e vivida pela  pratica do amor de Deus - que implica Amar á Deus  - compreendendo que esse amor muda nossa perspectiva e nosso  entendimento, nos faz nascer de novo  e nos conhecer como uma nova pessoa assim prontos para repassar esse amor ao  próximo. Amamos o próximo como a nós mesmo no novo entendimento da graça e do Espírito Santo.
Essa definição deve ser tomada como indicial, o seja como indicativa, de modo que o termo aponta para algo que só pode ser experimentado pela fé e não mensurado pela razão.

"Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna." 
Romanos 6:22



 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.

domingo, 29 de julho de 2012

Princípios dos dois caminhos

Princípios dos dois caminhos: Trata-se de um principio de discernimento para a teologiatranshistórica. Tem implicação com a cadoscidade, (ver cadoscidade) na medida que ser santo e separado, não se trata de ter atitudes religiosas ritualísticas ou postura de isolamento mas, de assumir uma posição, uma postura e um novo agir que provém do novo entendimento da graça.
Uma das bases fundamentais da teologia transhistórica é essa orientação dada por Jesus nos evangelhos acerca do caminhar.

"Entrai pela porta estreita porta grande e larga é a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. Estreito é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos encontram."
 (Mateus 7, 13.14)

A porta é a fé e o caminho esse novo jeito de viver iniciado por Jesus e conduzido pelo Espírito Santo. Assumimos essa indicação de que há somente dois caminhos e a seguinte perspectiva:

a) Sobre o caminho largo - é caminho de perdição, da condição de pecado, fundamento da humanidade. Ele é o caminho do bem e do mal, "de justiça", de leis, de diferença. Nele ganhamos a liberdade humana de forma a sentirmos como se pudéssemos ser deus e senhor de nosso destino, porém, com um preço muito alto, a morte. Estamos desde já nele, é um caminho que é movido pelo desejo,objetos do desejo e  pela falta fundante do ser.
Há amor, mas de natureza castradora ou narcísica. Todo nós passamos pela grande porta e se encontramos a caminhar na estrada larga.Caminho de crenças, da razão, das paixões e formas de viver, de poder, controle e ambição. Não temos como escapar dele, é o caminho necessário conhecido como mundo (não confundir com planeta) - seu saber é a cultura humana. Nele tudo nos é licito mas nem tudo convêm.
Por ser nossa condição humana e pensarmos a partir dele é que não assumimos um discurso dogmático de verdades absolutas. Também hierarquizamos a cadoscidade acima do discurso teológico. A fé é o que orienta a razão mas, não para teorizar verdades, mas apenas testemunhar.

b)   Sobre o caminho estreito - é o caminho apertado, o caminho para arvore da vida que foi selada depois da queda. È o caminho da vida, caminho este que sempre esteve ao lado da humanidade, mas, devido nossa condição de trevas no pecado não pode ver.Nele não há questões de diferenças e de semelhanças culturais, não há questões de raça ou etnia. Trata-se de um caminho que diz a respeito de morte e vida e não bem e mal, é o caminho do vivente e não do humano, por isso, é mais fácil de ser encontrado por pessoas  em estado de necessitadas do que aquelas que estão em estado de desejos, em outras palavras, é mais fácil um pobre encontrá-lo do que um rico. Alguns antigos encontraram esse caminho e foram perseguido e mortos, devido o entendimento que ele gera.
 Jesus inaugura a visão do caminho, a fé. Ele é o caminho.Um caminho que não pode ser conhecido por discurso, ele deve ser vivido. Os discurso só dizem dele de maneira indicativa e testemunhal, não estranhamente, Jesus falava dele por parábolas. 

 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.

Teologia Transhistórica


Mesmo com o racionalismo científico e tecnológico predominante na cultura contemporânea, a teologia se faz bem presente no dia a dia de muitas pessoas independentemente do nível cultural ou econômico. Talvez, muitos não se dão conta disso, por acharem que teologia trata-se apenas de um discurso complicado sobre Deus ou, um conhecimento que é privilégio somente de líderes religiosos como: padres, pastores, teólogos etc. O que é um equívoco.
            O termo Teologia vem do grego theos (θεóς) que significa - Deus, divindade, ou aquilo que é da esfera do sagrado;e logos (λóγος) - palavra, discurso, estudo, ou questionamento acerca de ou alguma coisa ou algo.
 Esse termo tem sua origem na Grécia antiga e durante o tempo passou por vários contornos e transformações de modo que atualmente se fala de teologias tais como: católica, protestante, espírita, evangélica, medieval, moderna, ecumênica, da esperança, da libertação, anglo-saxã, latino-americana, entre outras mais.

Mas afinal, com tantas teologias, o que podemos compreender sobre o que é ou, de que se trata a teologia?

            Podemos compreender que teologia é um discurso ou uma fala acerca de Deus ou sobre a dimensão do sagrado, ou mesmo, de coisas ditas espirituais, divinas e sobrenaturais.

            Com essa definição  podemos considerar que qualquer fala ou manifestação seja oral, escrita, visual, etc., que passe pelas vias ou temas acerca desses aspectos dado acima, trata-se de teologia ou de um discurso teológico. Uma conversa sobre anjos, demônios, uma música religiosa, uma pintura imaginária do inferno, um simples testemunho acerca de um milagre e até mesmo um questionamento mais complexo, sobre a não-existência de Deus, comumente feita pelos que se dizem ateus, pode ser considerado como teologia ou discurso  teológico.

            Para efeitos didáticos, dividiremos todos esses discursos  em três tipos a saber:

            1) Teologia popular: trata se de um tipo de discurso teológico simples muitas vezes espontâneo e assistemático. São aqueles discursos e conversas que comumente as pessoas fazem no seu cotidiano. Um testemunho sobre o que Deus fez em sua vida, um comentário acerca da ação de demônios ou espíritos ou uma opinião que reflete sua crença pessoal. Também podendo ser encarado como um tipo de sabedoria popular acerca de coisas espirituais ou sagrada sem vinculo com alguma instituição específica, de maneira que podem apresentar uma miscelânea de crenças proveniente de vários pontos de vista religiosos sem a pessoa se dar conta disso.

  2) Teologia religiosa ou confessional: esse tipo discurso teológico já apresenta um certo nível de elaboração e preocupação com aspectos lógicos, práticos e de uma certa postura comportamentais. São aqueles discursos de caráter institucional e religioso, apontam preocupação com membros, ordem, rituais, comportamentos éticos, com fundamentação voltada para um ambiente de uma religião ou grupo organizado, por isso, também é conhecido como discurso pastoral.
Muitas vezes tem aspecto dogmático, doutrinário, de modo a visar defender pontos de vista e, quando assumido de maneira engajada, passa a fazer parte da identidade do grupo.
Nesse tipo, os assuntos ou falas, (sobre Deus, anjos espíritos etc.,.), passam para um nível mais definido e elaborado. Em muitos casos, esses discursos, apresentam aspectos exclusivistas, assumindo uma posição fundamentalista, onde se diz tratar de um único discurso digno de crédito. Nele, podemos encontrar em jogo discussões calorosas sobre questões de verdade ou falsidade, certo e errado, etc.,.
Diferente do popular, o tipo religioso ou confessional reflete uma crença de um grupo organizado ou uma instituição religiosa. 

  3) Teologia sistêmica ou acadêmica: trata se de um tipo de discurso teológico com elaboração mais complexa composta por cruzamentos com perspectivas científicas e filosóficas. Por vezes, apresentam um caráter sistemático tão alto que assumem para si um status de cientificidade.
            São discursos preocupados com teses, provas, metodologias, demonstrações e exposições mais racionalizadas. Também são utilizados para servirem como base e fundamentação para discursos do tipo religioso ou confessional de modo que algumas instituições religiosas sustentam em seus espaços núcleos de formação como seminário teológico e faculdade.
            O tipo sistêmico não é melhor nem pior que os outros tipos, apesar de muitas vezes se colocarem de forma autoritária e refletirem uma certa vaidade intelectual, são tão falhos e limitados quanto qualquer outro discurso, principalmente quando tentam buscar alicerces nas ciências modernas e no mito da neutralidade instrumental, coisa que já foi superada na crise que as ciências da linguagem colocaram para o pensamento moderno durante o século XX.
 A lingüística e a semiótica colocaram em questão todo o conhecimento de viés racionalista. A perspectiva semiológica demonstrou que toda a linguagem é por natureza ideológica e que o efeito de neutralidade no discurso não passa de efeito retórico. Essa crise se aprofunda com a entrada da perspectiva psicanalítica apontando que todo o pensamento consciente tem influência do pensamento inconsciente.
            Apesar do discurso teológico sistêmico ou acadêmico ter reduzido sua forças e influências na contemporaneidade, principalmente com a ascensão do discurso do tipo religioso ou pastoral na mídia e de um tipo de teologia capitalizada, ele tem seu valor como qualquer outro discurso teológico, principalmente no que se refere a questão de criticidade.
  Talvez a questão aqui, não é de hierarquizar os tipos de discursos teológicos mas sim, de poder avaliar os prós e contras de cada discurso e como cada um tem seu papel particular, e por isso, suas limitações e lugares. 

  Outro aspecto que podemos considerar em nosso contorno é de distinguir didaticamente, para fins de análise, o discurso teológico em seu plano ético, moral ou conteudista e seu plano formal ou estético.

            1) No plano conteudista: refere-se  -  ao que o discurso diz, qual seu tema,  assunto ou valores teológicos. Quais as intenções dos falantes, se são conscientes ou não. E sua conseqüência ou efeitos para determinados contextos e sujeitos. Este é o nível mais valorizado em debates e discussões teológicas. 

            2) O aspecto formal ou estético: refere-se - ao como o discurso  diz, qual a maneira, jeito, forma, mídia utilizada para manifestar -se, sua linguagem: visual, sonora, tátil, etc. Esses é um dos aspectos mais menosprezados nos estudos de teologia e talvez um dos que merecem mais atenção atualmente, considerando que vivemos num mundo midiático. 
            Mc luhan  um   estudioso da comunicação  disse "o meio é a mensagem." ou se preferir entender de outra maneira, a forma faz parte da mensagem. Na perspectiva semiológica, a linguagem é por natureza ideológica tanto em seu conteúdo como em sua forma. Assim, num aspecto discursivo essa separação só faz sentido no ofício de análise mas, não há separação, não é possível comunicação sem linguagem ou signos.
 Sendo o signo ou a linguagem ideológica, a teologia é ideológica e manipuladora não só pelo seu plano de conteúdo, do dito, mas também, pelo seu plano estético ou forma expressão, ou seu  modo  de dizer. Assim, ética e estéticas são aspectos distintos da mesma moeda, dimensões de qualquer  discurso inclusive do teológico, não importa qual ao seu tipo.

 Essa distinção também será importante para auxiliar-nos  à verificar que há diversos discursos que pelo conteúdo não podem ser tratados como teológicos, mas, por sua forma ou sua abordagem, assumem não somente características formais teológicas, mas também, efeitos de natureza teológica como por exemplo- o discurso da propaganda que trabalha  com  produção de valor de culto, construção de mito, etc.

 A teologia transhistórica é um discurso teológico como os demais discurso no sentido que procura tratar dessas dimensões do sagrado, da divindade, da espiritualidade e fenômenos afins.
 Se associa aos discursos sistêmicos e acadêmicos quanto a seu caráter  critico e  analítico, também pelo cruzamento com outros campos do conhecimento. Porém, têm uma peculiaridade, ela procura trabalhar como uma espécie de teologia semio-psicanalitica, ou seja,  funcionara  como uma espécie de ferramenta ou instrumentos voltados para análise de discursos teológicos de modo à observar o impactos desses discursos  tanto nos sujeitos, quanto em seus contextos: sociais, econômicos, culturais, históricos, etc.
  Trata-se de uma teologia que entra no meio dos diversos discursos teológicos, analisando-os, e confrontando com alguns  conceitos  elaborados dentro do viés de uma teologia cristã transhitórica.  Assim além de analisar, constrói conteúdos de caráter especulativo e crítico por meio de seus poucos conceitos teológicos -  que denominamos como: contornos bases da teologia transhistórica. Esses contornos básicos procuram apontar, por uma perspectiva de fé, um núcleo, um conjunto de traços de caráter teológico cristão transhistórico. Eles  servirão para determinar um certo caráter e legitimidade dos diversos discursos teológicos analisados sobre a óptica  da Teologia transhistóricas.
 Esses conteúdos produzidos pela análise serão assumidos apenas como  leituras e discursos que não pretendem funcionar como verdade num sentido absoluto, mas, nem por isso, será menos  interessante, pelo  contrario, por seu modo analítico pode haver  um  impacto bem crítico nas  perspectivas teológicas de caráter cristão e não-cristão. 

            Por último é importante ressaltar que a plena verdade cristã, para a perspectiva da teologia transhistórica, está lá fora! Fora do discurso, dentro das pessoas e de suas experiências pessoais com o sagrado, com Deus, com Jesus Cristo. E, só pode ser reconhecida, por aqueles que estão no mesmo caminho, o caminho da vida, do reino de Deus, esse caminho da graça de Deus,  chamado Jesus. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

INTRODUÇÃO

Antes de tudo, consideramos que a Teologia Transhistórica é uma teologia de caráter cristão, porém, não necessariamente se associa a tradição do Cristianismo, apesar de correr o risco de ser rotulada como tal, pois, não tem como objetivo ser um discurso destinado e ligado à religião ou à tradição cristã, seja ela qual for a confissão: católica, protestante, evangélica, espírita, etc.
Como espaço discursivo, a Teologia Transhistórica, está aberto a todos aqueles que se identificam ou tem simpatia pela espiritualidade cristã. Para nós, a espiritualidade Cristã, ultrapassa as fronteiras religiosas e, é a marca central do Reino de Deus, em outras palavras, ela não é, de forma alguma, propriedade de um individuo ou de uma instituição religiosa por ser algo que acreditamos não ser instrumental ou da ordem das idéias (ou se preferir ideológica.), e sim, da ordem do Reino de Deus, da graça, dado não por discurso humano mais divino, um dádiva de Deus no qual o seu principal caminho se dá pela Fé, Esperança e  Amor( ver1 Cor. 13.).
Assim, apesar da Teologia Transhistórica apresentar  um caráter discursivo como os demais discursos teológicos, desde já, destacamos nossas pretensões de não  produzir um discurso de caráter dogmático  ou doutrinário, discurso simbólico instrumental que tem como fim à si mesmo tanto em seu conteúdo como em sua própria forma ou lógica discursiva.
Ela é um discurso lógico dentre os demais discursos, e que por sua natureza signica, (natureza fundamental da linguagem.), não pode jamais prometer ser completa e plena, pois, como sabemos,  o caráter do signo é de representação e não apresentação. O signo em si é de natureza  faltante, no sentido em que ao  tentar em suas tramas representar o real, já o distorce pela sua própria forma produzindo uma versão segunda do real a qual chamamos de realidade. O signo humano é ideológico por natureza, assim o mais honesto quando se pretende expor e produzir discursos é declararmos de partida nossa condição de parcialidade e de posicionamento inevitável que a linguagem nos coloca.
Apesar de ideológico, nossa postura perante o discurso é de procurarmos estarmos sempre atentos para não tomarmos ele, como uma teoria ou verdade que merece um engajamento pleno  e absoluto, como vemos no caso  da postura de sujeitos fundamentalistas, que ao olhar  seu discurso como lei, verdade pura e sagrada, passam a  lutar por ele, como lutasse-se por seu próprio eu, surgindo assim uma identidade por vezes fanática.
 Veremos mais adiante que a Teologia transhistórica visa antes de tudo, ser um discurso indicial que tem como base ética sempre questionar-se e jamais competir com a espiritualide que é o caminho em que o cristão deve-se apoiar. A fé e o amor é a realidade  e verdade dada aos homens pela graça de Deus e que apesar de cruzar com outras realidades e discursos históricos e ideológico do homem, não pode ser confundida como tal. Aqui é o ponto principal da teologia transhistórica, ser uma perspectiva,  que se esforça em vislumbrar esse algo que deixa suas marcas e  indícios na história individual e social do humano e, por sua própria natureza escapa e transpassa a história de modo a resistir a qualquer simbolização, ou seja, passa pela história humana mas, foge à qualquer tipo de controle humano,  assim aqueles que algum dia pensaram em ter possuído em seus domínios caiu na ilusão e tentação de uma outra natureza, mais conhecida como dia-bólica.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Por uma teologia Transhistórica

Este espaço inaugura uma nova linha de perspectiva teológica "cristã" chamado de Teologia Transhistórica (transistórica). Esta nova perspectiva é fruto de um longo trabalho de reflexão e debate acerca de uma teologia capaz de refletir o rastro da salvação que se testemunha na "pré-historia", na história, e na pós-história.
Em sintese é Trans, - porque ao mesmo tempo que atravessa a história e é mediado pelo Logônico ( ordem da linguagem) ao mesmo tempo que o atravessa. Pois, o  Logônico  sendo de natureza sígnica só o "apresenta" em parte devido seu carater ontológico de representação, de signo e significação. Dizendo de outro modo, a Teologia Transhistórica somente é trans, porque procura em parte, representar algo que é da ordem do Real (daquilo que escapa ou resiste a simbolização) - ordem essa que escapa em parte, por ter que passar pelo Icônico (imaginário humano) e pela trama do  Logônico , instâncias humanas que constrói  realidades. (formas de real (realidades) sob o  Real).
 Ela é histórica pois, podemos identifica-la por vias simbólicas, porem, ela não necessariamente se contem no  logônico o por ser da ordem do Real, ordem primeira das coisas.
Apresentarei nos próximos textos os fundamentos epistemológicos da Teologia transhistórica - o que posso adiantar a principio é que a Teologia Transistórica tem como base de reflexão as seguintes áreas: Teologia, Semiótica Psicanalítica e Espiritualidade.

Atenciosamente!

 Marcio Ferreira de  A. Miyazato.
Osasco, 11 de junho de 2012.  

Nossos encontros ocorrem quinzenalmente!
Local Sebo Multiverso - 
Av João Batista 104 - Osasco- Centro

Membros Fundadores:

Anderson Olier
Jonatan Silva Dos Santos
Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato

Grupo de estudos da Teologia Transhistórica 
Teologia Trans histórica
fundada em 11 de junho de 2012 na Cidade de Osasco