segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Perspectiva epistêmica da T.T - Parte IV - O Icônico

ICÔNICO - parte 2 -                                                                        


Muitas imagens são produtos feitos por meio da mente e pelas mãos dos homens. Essas  imagens produtos, apresentam uma variedade de  rótulos.

As que são produzidas para dentro chamamos de símbolos, ilusões, fantasias, fantasmas, ícones, modelos, paradigmas, marcas,  qualidades, etc. As que são produzidas para fora, chamamos de coisas, objetos, substâncias, protótipo, matéria, paisagem, etc.

Se a produção for espontânea chamamos de natural, se não, de artificial, técnica, ou tecnológica. Algumas parecem competir pelos dois processos, como as imagens artísticas, que ora são ditas como técnicas espontâneas, e ora, como espontâneas técnicas. Se à conhecemos, dizemos que são normais, caso contrario, anormais, ou até sobrenaturais. 

         Boa parte delas deve sua origem à capacidade de abstração chamada de imaginação. Segundo Vilém Flusser, imaginação é a capacidade de codificar fenômenos de quatro dimensões em símbolos planos e decodificá-las, ou seja, de produzi-las e decifrá-las (Flusser, 2011, p. 21).

      A leitura da imagem é circular, inicia por pontos preferenciais e voltam á eles. Esses pontos passam a ser o foco que lhe confere significado em todo o processo do olhar.      O tempo que circula é de aspecto mágico, distinto do tempo linear da escrita que estabelece relações de causalidade:

“No tempo linear, o nascer do sol é causa do canto do galo; no circular, o canto do galo dá o nascer do sol, e este dá significado ao canto do galo. (...) .. no tempo da magia, um elemento explica o outro, e este explica o primeiro. “  (Flusser, 2011, p. 23).

     Ainda segundo Flusser, seu caráter mágico é essencial para sua compreensão, pois, tratam –se de códigos que traduzem eventos em situações, processos em cenas, substitui eventos por cena. Desse modo, não podemos ignorar sua leitura peculiar e cometer o erro de ignorar seu "dito" que é expresso  pelas figuras,por seu modo de significar e também por aquilo que é "dito" em seus "entrespaços", tal como não se ignora o dito nas entrelinhas da escrita.
        As imagens são mediações entre o homem e o mundo, entre o sujeito e o real de maneira que passam até mesmo serem substitutas do próprio mundo fazendo emergir um sujeito de imagem, sujeito mágico, alienado de vida idolatra:

  (..) Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos. O homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver em função de imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como significados do mundo, mas  o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas, Tal inversão da função das imagens é idolatria. Para a idolatria - o homem que vive magicamente. ”     (Flusser, 2011, p. 23).

           Apesar do distanciamento que procuramos te em relação as imagens, somos incapazes de livrarmos dela, pois,  de acordo com a  psicanálise, nossa consciência , nosso eu (ego) é fruto de um processo imaginário, chamado por Lacan de Estádio do espelho.
           Lacan em seu texto,  "O Estádio do Espelho"  como formador da função do eu, mostra que,  no seus primeiros meses de vida, o bebê é prematuro neurofisiológica em relação a sua coordenação motora, seus movimentos são desordenados e sua imagem psíquica é fragmentada. Por volta dos 18 meses, na fase anal, fase que apresenta uma leve noção de alteridade, sua imagem e conectada por uma espécie de "gestalt", a criança ao reconhecer sua imagem no espelho tem um grande jubilo, porém essa identificação que ocorre perante o espelho é também uma alienação pois o que vê não é a si mesma mas uma outra imagem que será assumida como seu "ideal de eu".

      Essa terceira dimensão bem complexa que localiza-se na fronteira entre as duas dimensões, endógena (interna) e exógena (externa) podemos denominá-la também de "intergena". Ela têm um caráter operante, servem como uma espécie de ponte, espaço de conflito, interesse, transformações, harmonia, perturbações, conjunções e disjunções entre os dois mundos.
          A dimensão "intergena" é a dimensão da mente. A mente não se encontra somente no cérebro, ela se expande tanto para dentro do corpo, quanto para fora ,se ligando a outros corpos por meios da relação   (endógena - intergena – exógena) das imagens.

          Os processos imaginários que ocorrem para dentro da mente, chamamos de sonhos, alucinações, fantasia, fantasma, imaginação, etc. Enquanto, aqueles que ocorrem para fora, para o mundo externo, chamamos de arte, trabalho,  coisificação, criatividade, etc; E no meio, paixão, sublimação, introjeçâo,  emoção, etc. Assim a mente se conecta tanto para dentro quanto para fora.

       O “todo” ou o “Um” do processo imaginário chamamos de “eu’ ou “eus”. Há eu para dentro, “mim’;  Eu para fora, mas ainda dentro do campo, “tu’; Eu no meio de campo “nós”; E eu fora de campo “ele”,” isso”, “aquilo” e “outros”.

           O “eu” a partir de uma relação de dentro chamamos “sujeitos”( sub-jecto); O de fora, mas ainda dentro do campo, “objeto”(ob-jecto); O do meio de campo ocupa uma relação de composição estranha um sujeito-objeto-sujeito um “eu” intersubjetivo; E o de fora do campo,  objeto-sujeito-objeto um “ eu” trans-subjetivo.

         É graças a mente ou processos mentais que transformamos e multiplicamos as imagens, tanto as endógenas, quanto as exógenas expandindo-as, assim como expandimos a dimensão "intergena", nossa mente, nosso eu.
            Esse eu imagético ou icônico, é uma das dimensões que distingue o humano de qualquer outro animal, trata-se de um eu da queda, um eu que surge com o fruto do conhecimento do bem e do mal. Eu que vai encontrar no simbólico, no Logos, na lei, sua edificação e sua estruturação, e ainda, seu progresso, evolução e superação, como veremos adiante ao falar do terceiro vetor, o Logônico. 

Referência Bibliográfica:        
                                                                                         
BAITELLO ,Júnior, Norval. A era da iconofagia. Ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker Editores, 2005.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. São Paulo: AnnaBlume, 2011.


DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 



 Por: Marcio Ferreira de  Araujo Miyazato.  Estudante de Teologia - (FAETESF) e Pós-graduando em Semiótica Psicanalítica - PUC-SP.





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